Havia muitas estrelas no céu, naquela noite quente de verão.
Algumas nuvens, mais pareciam uma tela pintada de fresco, com cores de fogo,parecendo querer anunciar o acordar do sol...
A aragem fresca junto ao rio, mal se sentia.
O cheiro a tinta do bote que tinha sido pintado à tardinha, ainda pairava no ar.
O rio espalhava o seu resplandecente no leito, que lhe prestava vassalagem.
Algumas vozes ecoavam vindas da estrada principal.
Provavelmente alguém que vinha do único café que existia na povoação.
Os poucos automóveis, que por ali passavam àquela hora tardia, emitiam o som típico quando se circulava na estrada dos "paralelos" como se dizia.
No extenso lamaçal, aonde algumas embarcações aguardavam a chegada dos pescadores, o contraste de cores era notório, com as águas tranquilas do mondego.
Um batel passou carregado de sal, vindo de uma das salinas do sul.
A agilidade dos dois homens, que se movimentavam em sentidos opostos com grandes varas em cima do batel, mais parecia um bailado de amor...
Quando se cruzavam a meio caminho,viam-se as suas silhuetas dentro do sol...que tinha decidido nascer outra vez.
Era um espectáculo fantástico, ao vivo recheado de todos os ingredientes necessários para desfrutar desse momento único.
Ao longe por debaixo da ponte dos arcos,o batel desaparecia, como aparecera
Na outra margem a "coroa da burra", começava a esperguiçar-se, e expulsava os últimos lençóis de água que acareciavam seu corpo.
Era a mãe de muita gente, já à alguns anos para cá, sobretudo na apanha do berbigão.
Nessa madrugada dos anos sessenta, famílias inteiras atravessavam o rio de bote a remos.
Eram às dezenas, pais e filhos com enxadas e ancinhos,e às vezes de mãos nuas à procura do pão espalhado na ilhota,que a baixa-mar proporcionava...
Os de mais tenra idade,com os seus seis,talvez sete anitos, apanhavam os burriés entre o limo.
Marisco muito apetecido, que depois se vendia na figueira, no mercado e cafés.
À beira-rio o Manel já tinha regressado com o bote do pai carregado de sacos de berbigão.
Foi ao armazém do Pinto, e fez rápidamente o negócio da venda como era habitual.
O suor, corria e molhava-he a testa,que era por momentos travado nas sobrecelhas, entrando nos olhos verdes-azuis cor de mar.
A camisa entreaberta mostrava rios de transpiração...
Já estava a entardecer, ele exausto,só pensava na Rosa, a sua apaixonada.
Era o seu primeiro amor, desde os tempos da escola primária, onde deram o seu primeiro beijo.
Ela morava na cova, ele era da gala, era um amor proíbido derivado,a uma guerra entre famílias.
Já se tinham encontrado e dançaram juntos na matiné da gala.A notícia já andava de boca em boca,que eles namoravam.
O ti Zé,homem rude, com muitas viagens do "bacalhau" já tinha avisado a filha,que não a queria ver com esse rapaz,-"ai dele se tocasse na minha filha "- dizia a quem o quizesse ouvir, enquanto bebia um "pirata" na taberna junto à estrada...
A aragem fresca junto ao rio, mal se sentia.
O cheiro a tinta do bote que tinha sido pintado à tardinha, ainda pairava no ar.
O rio espalhava o seu resplandecente no leito, que lhe prestava vassalagem.
Algumas vozes ecoavam vindas da estrada principal.
Provavelmente alguém que vinha do único café que existia na povoação.
Os poucos automóveis, que por ali passavam àquela hora tardia, emitiam o som típico quando se circulava na estrada dos "paralelos" como se dizia.
No extenso lamaçal, aonde algumas embarcações aguardavam a chegada dos pescadores, o contraste de cores era notório, com as águas tranquilas do mondego.
Um batel passou carregado de sal, vindo de uma das salinas do sul.
A agilidade dos dois homens, que se movimentavam em sentidos opostos com grandes varas em cima do batel, mais parecia um bailado de amor...
Quando se cruzavam a meio caminho,viam-se as suas silhuetas dentro do sol...que tinha decidido nascer outra vez.
Era um espectáculo fantástico, ao vivo recheado de todos os ingredientes necessários para desfrutar desse momento único.
Ao longe por debaixo da ponte dos arcos,o batel desaparecia, como aparecera
Na outra margem a "coroa da burra", começava a esperguiçar-se, e expulsava os últimos lençóis de água que acareciavam seu corpo.
Era a mãe de muita gente, já à alguns anos para cá, sobretudo na apanha do berbigão.
Nessa madrugada dos anos sessenta, famílias inteiras atravessavam o rio de bote a remos.
Eram às dezenas, pais e filhos com enxadas e ancinhos,e às vezes de mãos nuas à procura do pão espalhado na ilhota,que a baixa-mar proporcionava...
Os de mais tenra idade,com os seus seis,talvez sete anitos, apanhavam os burriés entre o limo.
Marisco muito apetecido, que depois se vendia na figueira, no mercado e cafés.
À beira-rio o Manel já tinha regressado com o bote do pai carregado de sacos de berbigão.
Foi ao armazém do Pinto, e fez rápidamente o negócio da venda como era habitual.
O suor, corria e molhava-he a testa,que era por momentos travado nas sobrecelhas, entrando nos olhos verdes-azuis cor de mar.
A camisa entreaberta mostrava rios de transpiração...
Já estava a entardecer, ele exausto,só pensava na Rosa, a sua apaixonada.
Era o seu primeiro amor, desde os tempos da escola primária, onde deram o seu primeiro beijo.
Ela morava na cova, ele era da gala, era um amor proíbido derivado,a uma guerra entre famílias.
Já se tinham encontrado e dançaram juntos na matiné da gala.A notícia já andava de boca em boca,que eles namoravam.
O ti Zé,homem rude, com muitas viagens do "bacalhau" já tinha avisado a filha,que não a queria ver com esse rapaz,-"ai dele se tocasse na minha filha "- dizia a quem o quizesse ouvir, enquanto bebia um "pirata" na taberna junto à estrada...
(continua)
(João Catavento)
Pintura - Cunha Rocha
Pintura - Cunha Rocha
Sem comentários:
Enviar um comentário