Quase ao fundo da Avenida Remígio Falcão Barreto, na povoação da Cova, e até finais dos anos 60 do século passado existiu durante mais de 30 anos uma taberna-mercearia, uma barbearia, e uma pequena loja de frutas numa casa, que se encontrava até à uns anos atrás em avançado estado de degradação.
Casa essa já centenária, que segundo dizem os idosos desta terra, foi a primeira a ser construída de pedra no lugar da Cova.
Era quase como um mini centro comercial desse tempo...
Para a taberna, tinha-se acesso pela porta de madeira à direita, no lado esquerdo, situava-se a mercearia e mais à esquerda, com uma porta mais pequena, a famosa barbearia do senhor Fernando e finalmente na parte lateral esquerda, portanto do lado do mar, havia também uma pequena loja de frutas e hortaliças.
Todos estas lojas, tiveram a sua actividade comercial ao mesmo tempo durante alguns anos, na dita casa.
Além de outras lojas, como a do " Manel dos Caracois", do Manuel Farinheiro e da padaria do Peralta, eles foram também pioneiros, dos primeiros estabelecimentos comerciais nesta pequena localidade de pescadores abandonada à sua sorte, caída no esquecimento, sem quaisquer apoios da freguesia de Lavos a quem pertencia, ou da Câmara Municipal da Figueira da Foz daquele tempo...
Se bem me lembro, como já dizia também o nosso Vitorino Nemésio, num programa que passava na televisão aos sábados á tarde no primeiro canal, era na taberna do Fransisco, que muita gente do mar se reunia, conversavam, discutiam e abafavam algumas mágoas com uns bons copos de vinho tinto que corria com abundância pela torneira de madeira de uma das velhas e grandes pipas de carvalho, que imponentes marcavam sempre presença e eram a grande atração da taberna.
Dizia o senhor Fransisco, quando a noite de inverno já tinha invadido a aldeia:
- Está na hora de fechar, já é tarde!
O Galhofa como era conhecido, e que morava ali mesmo ao lado logo replicava:
- Oh senhor Francisco dê-me só mais um traçado, que eu moro aqui perto!
- Então dê-me vossemecê mais um tinto que eu moro mais longe do que ele, e tenho que andar mais... - dizia outro, já um pouco quentinho de tanto vinho que tinha ingerido.
Entretanto chegava o Fernando da barbearia:
- Ainda bem,que está aberto Senhor Fransisco, avie-me um traçado e dê de beber a esta gente, que o negócio hoje correu-me bem.
Eram os derradeiros copos que eram servidos na taberna, lá fora uma mulher esperava e desesperava pelo marido e exclamava:
- Oh homem dos meus pecados, anda pra casa, que o comer já está frio! Olha a minha vida! Amanhã tens ordens para as cinco da manhã!
- Está bem, está bem - dizia enquanto descia o último degrau da entrada da taberna - "mas amanhã, antes de ir pró mar venho aqui matar o bicho! Né senhor Fransisco?"
O senhor Fransisco lá conseguia finalmente fechar a taberna, a aldeia essa, já tinha adormecido envolta num manto de nevoeiro que trazia uma maior melancolia e tristeza, a principal rua já estava deserta...tomada também pela obscuridade da noite.
Ficava simplesmente o barulho da rebentação das ondas do mar agitado que se ouviam ao longe e vigiavam a minha aldeia...
(João M. Fidalgo Pimentel)
Sem comentários:
Enviar um comentário