Durante muitos séculos grande parte do litoral português permaneceu esquecido e inabitado, com excepção de alguns povoados piscatórios, primeiro de carácter sazonal e depois permanente.
A fixação permanente ou sazonal, era contrariada pela falta de condições de habitabilidade da costa.
Onde não havia água potável, terrenos agricultáveis ou estradas, que permitissem retirar o sustento do solo ou comunicar facilmente com os núcleos agrícolas do interior, donde provinham algumas populações e muitas outras que se deslocavam de outras zonas do litoral centro-norte para sul, que se instalavam junto ao mar na época da safra, e que mais tarde acabariam também por se instalar definitivamente, maioritariamente oriundas das terras de Ílhavo.
Exemplo mais notório disso, foi a Cova de Lavos, que muitos gracejando, anos mais tarde apelidavam também de "Cidade da Estaca", situada a sul da foz do mondego, como documenta a fotografia.
Era uma das povoações com o maior número de habitantes, no século XIX, originários de Ílhavo, começaram a construir os seus primeiros palheiros ainda na segunda metade do século XVIII.
A escassez de materiais de construção, como a pedra e o adobe, bem como a dificuldade em transportá-los por caminhos trilhados na areia, o carácter de nos primeiros anos ser temporária a estadia e a instabilidade própria do solo, determinaram o tipo de habitações edificadas pelos pescadores para lhes servir de albergue durante a temporada da pesca.
As povoações de palheiros, nasceram fruto da adaptação e do engenho do homem às especificidades do meio, sendo constituídas por casas de madeira e telhados de colmo assentes em estacas enterradas na areia ou directamente no chão.
As estacas podiam atingir a altura de um homem ou mais, para permitir a passagem das areias e impedir que as construções ficassem rapidamente soterradas.
Erigidos geralmente no alto da duna, que acompanhava a orla da praia, na vertente protegida do vento, os palheiros.
Os palheiros foram durante muito tempo a única espécie de casa das povoações do litoral.
"Como geralmente em todas as povoações costeiras, ter casa própria, na Cova de Lavos, é uma aspiração suprema e quasi sempre realisada, ou ella seja modesta e custe vinte libras, ou vasta e folgada e vá até ás cem.
Depois ha os reparos e a substituição frequente das estacas, e, se a prosperidade ajuda, tingem-se de cal".
"Dentro o aceio, de que a bilha de água gua sempre coberta com um panno de linho é um traço já proverbial nas immediações, interiormente, manifesta-se no aspecto de soalhos e paredes e na disposição dos moveis exclusão dos petrechos de pesca menos limpos.
Para estes destinam-se barcos já inuteis, como em Buarcos; e por fim, como subsidio providente a uma industria de naturesa essencialmente aleatoria, o pescador da Cova cultiva terrenos areentos que aluga ou de que se apossa e d'onde obtem alguns legumes, cereal, teberculo e vinha mesmo.
Ora o aspecto desta povoação, com o solo incessantemente revolto, mas installada como n'uma depressão dá a imagem, talvez approximada, d'uma aldeia lacustre..."
A existência do povoado da Cova de Lavos, surge portanto, em meados do século XVIII, quando pescadores oriundos das cercanias de Ílhavo, nas suas andanças pela orla costeira, na procura de melhores zonas pesqueiras.
Acabaram por se fixar junto á margem sul do Rio Mondego, muito perto do mar, na cava de uma duna, o que deu origem ao topónimo Cova.
As pesquisas feitas pelo ilustre covagalense, Comandante João Pereira Mano, revelam que o primeiro registo de um baptismo feito a uma criança nascida na Cova, na Igreja da Nossa Senhora da Conceição de Lavos, pelo Padre Cura Tomás da Costa.
Foi a 15 de Julho de 1793, de nome Luís, filho de Manuel Pereira e de Luísa dos Santos, naturais de Ílhavo, tendo os padrinhos a mesma naturalidade.
Com este acto, ficou feito um assento oficial probativo da existência do povoado já habitado há alguns anos...
Foto - Palheiros da Cova de Lavos, a sul da foz do Mondego no século XIX
Rocha Peixoto, “Habitação. Os palheiros do litoral”
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