"Na outra margem a "coroa da burra",começava a esperguiçar-se e expulsava os últimos lençóis de água que acareciavam seu corpo.
Era a mãe de muita gente, já há alguns anos para cá, sobretudo na apanha do berbigão.
Nessa madrugada dos anos sessenta,famílias inteiras atravessavam o rio de bote a remos.Eram às dezenas, pais e filhos com enxadas e ancinhos, e às vezes de mãos nuas à procura do pão espalhado na ilhota,que a baixa-mar proporcionava...
Os de mais tenra idade, com os seus seis, talvez sete anitos,apanhavam os burriés entre o limo e a lama...
Marisco muito apetecido, que depois se vendia na figueira, no mercado e cafés.
À beira-rio o Manel já tinha regressado com o bote do pai carregado de sacos de berbigão.
Foi ao armazém do Pinto, e fez rapidamente o negócio da venda como era habitual (...)."
João Fidalgo Pimentel - Excerto do escrito "A Recoleta"
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